esboço da ópera, ainda sem implantação definida
Uma das maiores dificuldades foi a implantação do percurso da ópera em São Paulo. O texto a seguir foi escrito naquele momento.
implantando 1jun3
Dina, está difícil definirmos as coisas. O que acontece? Precisamos de materialidade! Nossa idéia viajante está muito boa, mas não vamos conseguir avançar e defende-la se não chegarmos à sua materialização.
E isso, no momento, quer dizer que ela precisa ser implantada em algum lugar.
Queremos que a estrutura soe para a cidade.
Queremos que as pessoas criem coletivamente, que se inicie pela arte, dada nossa sociedade agora como está, uma nova organização do trabalho.
Nosso projeto precisa tornar viva essa organização. Coisas vão acontecer lá dentro e só “servirão” se não forem o caos. A música pede harmonia. De cara, somos “contra o caos”. Bom.
O que vai acontecer lá dentro depende muito da nossa intenção, dos princípios da nossa proposta, coisa que já fizemos. Na verdade, superamos um ponto que é o do que queremos que aconteça lá dentro.
Estamos bem aí: como isso vai acontecer? E agora sim, dependemos da forma e da implantação.
Não nos cabe tanto pensar em formas acabadas para os produtos que vão sair, tentar criar paralelos com orquestras e corais, dispondo mecanismos que correspondam a isto ou aquilo da realidade. Precisamos pensar diretamente na produção da arte, na produção como arte, na organização do trabalho. Mesmo porquê, olha só! O que é arte, afinal? Não seria tudo o que fazemos com alguma consciência de que estamos fazendo, ou seja, com intenção? Estava pensando nisso: a gente escreve um texto, ou mesmo falando, sem fazer necessariamente poesia. Ao falar, a nossa voz é um som, mas não é ainda música. Andamos pra lá e pra cá, nos movimentamos o tempo todo e nem por isso estamos dançando... isso para dizer que a arte poderia estar em tudo, forçando a barra, se houvesse um pouco mais de atenção quando a gente faz o que faz sempre. Olhando pra essa afirmação, só, podemos tirar que existe uma separação muito forte, as coisas são vistas bem unilateralmente, ao ponto de uma, o objeto da sua ação, se sobrepor a outra, que é o como você faz o objeto, sendo que essas duas coisas são parte de um mesmo processo. Isso não é nada sobrenatural, só estou constatando; daí podemos relacionar essa incapacidade de atenção mais ampla como resultado de um monte de “coisas”; por exemplo, a mecanização. Pra não fugir do assunto: é um desafio enorme criar um edifício “conscientizador”.
Mas pensando assim, no edifício-despertador, que vai te acordar quando você é o ouvido na entrada, o prédio tem que estar totalmente relacionado com a cidade, que onde acontecem os processos, para o qual queremos despertar os sentidos, a consciência e então gerar um novo processo de “devolução” à cidade. Essa arte que sai do nosso edifício é uma arte que educa para a produção...
Dina, está difícil definirmos as coisas. O que acontece? Precisamos de materialidade! Nossa idéia viajante está muito boa, mas não vamos conseguir avançar e defende-la se não chegarmos à sua materialização.
E isso, no momento, quer dizer que ela precisa ser implantada em algum lugar.
Queremos que a estrutura soe para a cidade.
Queremos que as pessoas criem coletivamente, que se inicie pela arte, dada nossa sociedade agora como está, uma nova organização do trabalho.
Nosso projeto precisa tornar viva essa organização. Coisas vão acontecer lá dentro e só “servirão” se não forem o caos. A música pede harmonia. De cara, somos “contra o caos”. Bom.
O que vai acontecer lá dentro depende muito da nossa intenção, dos princípios da nossa proposta, coisa que já fizemos. Na verdade, superamos um ponto que é o do que queremos que aconteça lá dentro.
Estamos bem aí: como isso vai acontecer? E agora sim, dependemos da forma e da implantação.
Não nos cabe tanto pensar em formas acabadas para os produtos que vão sair, tentar criar paralelos com orquestras e corais, dispondo mecanismos que correspondam a isto ou aquilo da realidade. Precisamos pensar diretamente na produção da arte, na produção como arte, na organização do trabalho. Mesmo porquê, olha só! O que é arte, afinal? Não seria tudo o que fazemos com alguma consciência de que estamos fazendo, ou seja, com intenção? Estava pensando nisso: a gente escreve um texto, ou mesmo falando, sem fazer necessariamente poesia. Ao falar, a nossa voz é um som, mas não é ainda música. Andamos pra lá e pra cá, nos movimentamos o tempo todo e nem por isso estamos dançando... isso para dizer que a arte poderia estar em tudo, forçando a barra, se houvesse um pouco mais de atenção quando a gente faz o que faz sempre. Olhando pra essa afirmação, só, podemos tirar que existe uma separação muito forte, as coisas são vistas bem unilateralmente, ao ponto de uma, o objeto da sua ação, se sobrepor a outra, que é o como você faz o objeto, sendo que essas duas coisas são parte de um mesmo processo. Isso não é nada sobrenatural, só estou constatando; daí podemos relacionar essa incapacidade de atenção mais ampla como resultado de um monte de “coisas”; por exemplo, a mecanização. Pra não fugir do assunto: é um desafio enorme criar um edifício “conscientizador”.
Mas pensando assim, no edifício-despertador, que vai te acordar quando você é o ouvido na entrada, o prédio tem que estar totalmente relacionado com a cidade, que onde acontecem os processos, para o qual queremos despertar os sentidos, a consciência e então gerar um novo processo de “devolução” à cidade. Essa arte que sai do nosso edifício é uma arte que educa para a produção...
Caramba! Está difícil implantar! Fico pensando no que a gente tem disponível de lugar... Vou tentar outro caminho.
É fundamental que as pessoas entrem nesse edifício com uma “naturalidade”. Não faz sentido as pessoas irem até lá, conscientemente. Vai começar com todo mundo chegando ali a pé, tem que ser. Vai chegar todo o mundo lá do mesmo jeito que está sempre, sem prestar aquela atenção total... Se não, ninguém vai chegar, porque não existe a intenção! A função do nosso edifício não é a de despertar para a intenção? Através do processo que vai se criar lá dentro... Então não podemos contar com ela a priori.
Voltando, as pessoas chegam lá andando. Talvez elas nem percebam que entraram, de cara. Vão percebendo aos poucos, quando viram ouvidos ao passar pela orelha. Daí vão produzir algum som ao passar por alguma superfície... Nada de intenção ainda, a intenção vai se construindo... A superfície tambor em seqüência à orelha é fundamental por isso! Não podemos contar ainda com a intenção! É isso! Depois desse percurso inicial, de leve, vão entrando os outros mecanismos, que devemos eleger dos “menos” aos “mais intencionais”. O complexo está criado. Pode ser um lugar de passagem, de forma que você saia por outro acesso que não aquele da entrada. A seqüência pode ser simétrica na ida e na volta, para captar e aos poucos “devolver” os passante à cidade. No meio, estaria o auge da intencionalidade, do gesto e tudo o mais, aquela conjunção perfeita do som, movimento, das intenções funcionando, com a eficiência de uma máquina, mas sem ser máquina, porque a máquina é programada, não decide o que faz.
Desse miolo emanaria o som, talvez as imagens dos movimentos das pessoas, por algumas aberturas ou pelo movimento das estruturas mesmo, acionadas pelas pessoas, já pensou? E aí haveria algo de instigante. É que nem o nosso projeto, difícil começar; mas um vez começado, uma vez tendo sido produzido som e movimento ali, já não se está mais no zero e começa a ser construída uma intenção a priori: as pessoas indo até o edifício porque querem, intencionam, entrar nele. As pessoas captam o produto e vão para o processo. Faz sentido, num mundo em que todos são consumidores: existe esse treino para captar os produtos! O processo, a produção, isto é o que não está claro. O produto criado pelo edifício é um chamariz para o processo.
A escala vai depender do lugar que escolhermos. Não vejo problema em ser algo grande. Precisamos até de uma certa monumentalidade, talvez... o importante é que não seja impermeável, que não contenha os sons e imagens em si mesma. Isso deve ser projetado à cidade e o prédio deve estar projetado junto, na mesma medida, nem sendo mais nem menos que os sons, imagens etc. A escala depende dessa combinação também.
É isso, Dina, acho que já temos a implantação. Precisamos consultar nossos mapinhas pra ver onde passa um certo tanto de gente, considerando referenciais visuais com significado para a cidade, que poderiam ser evidenciados pela presença de um novo edifício com as características desse nosso.
É fundamental que as pessoas entrem nesse edifício com uma “naturalidade”. Não faz sentido as pessoas irem até lá, conscientemente. Vai começar com todo mundo chegando ali a pé, tem que ser. Vai chegar todo o mundo lá do mesmo jeito que está sempre, sem prestar aquela atenção total... Se não, ninguém vai chegar, porque não existe a intenção! A função do nosso edifício não é a de despertar para a intenção? Através do processo que vai se criar lá dentro... Então não podemos contar com ela a priori.
Voltando, as pessoas chegam lá andando. Talvez elas nem percebam que entraram, de cara. Vão percebendo aos poucos, quando viram ouvidos ao passar pela orelha. Daí vão produzir algum som ao passar por alguma superfície... Nada de intenção ainda, a intenção vai se construindo... A superfície tambor em seqüência à orelha é fundamental por isso! Não podemos contar ainda com a intenção! É isso! Depois desse percurso inicial, de leve, vão entrando os outros mecanismos, que devemos eleger dos “menos” aos “mais intencionais”. O complexo está criado. Pode ser um lugar de passagem, de forma que você saia por outro acesso que não aquele da entrada. A seqüência pode ser simétrica na ida e na volta, para captar e aos poucos “devolver” os passante à cidade. No meio, estaria o auge da intencionalidade, do gesto e tudo o mais, aquela conjunção perfeita do som, movimento, das intenções funcionando, com a eficiência de uma máquina, mas sem ser máquina, porque a máquina é programada, não decide o que faz.
Desse miolo emanaria o som, talvez as imagens dos movimentos das pessoas, por algumas aberturas ou pelo movimento das estruturas mesmo, acionadas pelas pessoas, já pensou? E aí haveria algo de instigante. É que nem o nosso projeto, difícil começar; mas um vez começado, uma vez tendo sido produzido som e movimento ali, já não se está mais no zero e começa a ser construída uma intenção a priori: as pessoas indo até o edifício porque querem, intencionam, entrar nele. As pessoas captam o produto e vão para o processo. Faz sentido, num mundo em que todos são consumidores: existe esse treino para captar os produtos! O processo, a produção, isto é o que não está claro. O produto criado pelo edifício é um chamariz para o processo.
A escala vai depender do lugar que escolhermos. Não vejo problema em ser algo grande. Precisamos até de uma certa monumentalidade, talvez... o importante é que não seja impermeável, que não contenha os sons e imagens em si mesma. Isso deve ser projetado à cidade e o prédio deve estar projetado junto, na mesma medida, nem sendo mais nem menos que os sons, imagens etc. A escala depende dessa combinação também.
É isso, Dina, acho que já temos a implantação. Precisamos consultar nossos mapinhas pra ver onde passa um certo tanto de gente, considerando referenciais visuais com significado para a cidade, que poderiam ser evidenciados pela presença de um novo edifício com as características desse nosso.
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