29.4.08

faculdade de criação e construção, 2002

(trechos do projeto-texto original)
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o projeto começa com a fau no pari. da proposta de projetar uma faculdade de arquitetura, surge a idéia da faculdade de criação e construção, um lugar onde se projeta e se constrói. (não se trata de reunir os cursos de engenharia e artes sob o mesmo teto, a serviço da arquitetura). daí surgiu a idéia dos módulos, pelos quais estariam distribuidos os elementos de criação e construção, cada um com uma ênfase. o estudante na faculdade é livre para trabalhar com o que tem mais afinidade, mas nunca perde a relação de sua coisa, seu objeto de estudo, com o todo, porque ele faz parte do todo e também contém o todo.
princípios: ingresso livre (o vestibular é algo muito vinculado ao prestígio do nome da instituição, portanto, não é o melhor instrumento de seleção: exclui uma massa disposta a trabalhar, construir, enquanto beneficia uma grande parte de inexpressivos entre os atuais ingressantes, que só têm como fim um diploma). a inexistência do vestibular liberta o ensino fundamental-médio de suas limitações de agora, já que sua função acaba sendo de transmitir um amontoado de informações para exames.
estudantes como agentes do espaço: propiciar um envolvimento real dos estudantes com o espaço. podem optar por dormir nele, se quiserem. é o momento de se envolver com aquilo. disciplinas realmente livres, salas de aula são salas de reunião coordenadas por um professor consciente de seu papel ali.
no desenho, o módulo desaparece. surgem questões: de onde vêm os materiais? quem constrói? _o desenho como dominação. mas, neste momento de projeto, principalmente como alienação do desenhista...
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diante deste primeiro impasse, pensa-se um instante na obra. o terreno do pari é um grande canteiro. quem quer construir uma faculdade de criação e construção? é feito o convite à cidade. as construções existentes viram alojamento. no acampamento, as equipes se organizam por afinidade em torno do projeto-construção do edifício e das atividades de manutenção_ limpeza, refeições... cada qual com seu conhecimento trazido da sociedade fragmentada aprendendo a juntar tudo numa construção de um novo pensamento, de um novo trabalho, que beneficie a humanidade em seu conjunto; um trabalho social verdadeiro_ aí sim, dentro da perspectiva de uma nova sociedade, na qual o saber é um saber social, não uma posse como é hoje. o conhecimento hoje converte-se em mercadorias enquanto os trabalhos ditos sociais, ao proporem a “inserção social”, estão, na realidade, produzindo consumidores. o trabalho na obra é para anos, talvez décadas e, pelo caráter que assume, aponta para que, quando a faculdade ficar pronta, ela não precise mais existir, pois teria sido a própria obra (e neste momento o projeto reencontra o texto "trans-escola", surgido no meio do processo de elaboração dessas idéias)
(...)
etapa de aglutinação
o arquiteto-estudante, em vez de lançar-se já à construção da escola no pari, precisa voltar-se para o que mais de imediato pode receber sua intervenção: sua própria faculdade. observando o edifício da fau, é possível perceber que o prédio foi pensado por artigas como um lugar para a aglutinação, ficando faltando apenas a apropriação deste espaço...; o projeto de aglutinação deve reunir uma série de trabalhos, que possibilitem criar uma atmosfera de questionamentos com o objetivo de se entender como as coisas são hoje e por quê. só assim se chega em como elas podem ser (ideal) e, finalmente, em como fazer para que as coisas se transformem. este caminho é extremamente necessário, do contrário, toda nossa produção, como estudantes ou como profissionais, estará sempre contida em uma postura de constante adaptação à realidade, propondo no máximo melhorias e nunca transformações de fato_ a começar pela transformação da apropriação do nosso próprio desenho. sem dúvida estas questões servirão de base para futuros exercícios de projeto. o fato do desenho não ter aparecido neste exercício da maneira convencional não significa que a importância dele tenha sido descartada. pelo contrário. a partir daqui, abre-se uma perspectiva nova para o desenho, que irá buscar uma relação com o fazer e com os materiais e, aprofundando o raciocínio desenvolvido até aqui, voltar-se para um objetivo imediato cada vez mais claro, de aglutinar os potenciais criadores e transformadores.
AUP-152
faculdade de criação e construção
2002

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